Uma família como outra qualquer
Cresci ouvindo que meu pai não prestava. Inclusive pessoas da própria família dele, como vovó e vovô, desciam a lenha no papai. Sim, ele teve algumas relações. E deixou seus filhos e outras mulheres pelo caminho. Mas quando um filho aprende que seu pai não presta (poderia ser minha mãe, que por sinal, foi execrada também pela família), este sente a dor nele mesmo. Eu não presto, pensava. E realmente me senti muito mal, durante toda minha infância e adolescência. Baixa autoestima que avançou pela juventude.
O julgamento que adquiri em relação ao meu pai, foi ensinado quando eu era criança, e não tinha nenhum senso crítico para barrar o que me falavam como verdade. Lógico que tive minhas dores em relação ao meu pai, mas vou dizer que nenhuma delas tinha a ver com o perfil namorador dele. Sentia a falta da presença. Dos conselhos. Da proteção. Do sustento.
Quando fazemos terapia, em algum momento iremos começar a entender: existe a nossa dor – verdadeira e real – e existem as crenças que nos induziram a acreditar. A terapia nos auxiliará a separar o que é dos outros, do que é nosso. Em posse somente das minhas dores, já consigo lidar com mais maturidade. O problema não fica tão pesado. Foi o que aconteceu comigo. Aprendi a olhar como adulto para a história do meu pai. Mesmo aprovando algumas coisas e reprovando outras, o vi como ser humano. Um homem inteligente e hábil. Mas também frágil, deficiente em diversos aspectos, que não tinha condição emocional de cuidar nem de si, nem das famílias que ele fez. Homem que encontrou também mulheres fortes em parte, e frágeis em outras partes. E assim é a vida. E assim é minha família. Sem laços cor-de-rosa. Nem glamour. Nem satanização. Uma família como outra qualquer.