A pérola dentro da ostra
Na terapia forjamos um termo: cliente resistente. Dá a impressão de que alguém está se fechando como uma ostra, e pode até morder se você quiser saber “o que tem lá dentro”! Esta ideia era um terror para mim, quando comecei a atender como terapeuta, 10 anos atrás. O que vou fazer? O cliente não vai se abrir, eu não vou conseguir ajudá-lo e como é que vai ser? Talvez você não seja terapeuta, mas também vive esta situação quando quer “abrir” seu pai, seu namorado, uma amiga… e percebe o quanto é difícil, às vezes, impossível.
Gostaria de tecer algumas considerações. As pessoas não falam de seus assuntos mais íntimos por alguns motivos. O primeiro e talvez, mais óbvio, é pela sua própria característica, que tem a ver com personalidade, criação e meio social onde cresceu. E o segundo motivo é a defesa: algo doloroso, dentro de si, é algo ameaçador, muito desconfortável de relembrar e colocar para fora. A própria mente irá colocar uma barreira entre o conteúdo interno e a expressão.
Se realmente temos a “boa intenção” de auxiliar alguém, deveríamos abraçar a “não-expressão” desta pessoa. Na prática, quando estou ouvindo um cliente, eu ouço totalmente atento. Mas não somente ouço. Eu vejo, eu sinto… E respiro. Internamente, dou um comando para permitir que esta pessoa sentada na minha frente seja quem ela é, do jeito como ela é. Eu digo “sim” para ela, dentro de mim. Várias vezes. É curioso que, neste processo, muitas vezes começam a surgir “revelações”… aos poucos, a pessoa se abre. Lógico que, num atendimento terapêutico, existe a predisposição da pessoa falar, colocar algo para fora. O mesmo não acontece numa relação afetiva ou familiar. Por isso, também devemos respeitar o direito da pessoa íntima em não revelar suas questões, a não ser que ela realmente queira.
Alex Possato