Honrando nossos pais
Minha relação com minha mãe e pai sempre foi conturbada, com idas e vindas, encontros e desencontros. A carência por ambos, no entanto, foi a força motriz para a busca. Busquei meus pais neles mesmos, mas não os encontrei. O que eles demonstraram de presença não me preenchia, e os “nãos” que recebi me feriram profundamente. Continuei buscando. Em diversas religiões, caminhos e filosofias, fiz muitas transferências. Na tentativa de me conectar com professores e mestres sublimes, também caí do cavalo. Como encontrar “pais perfeitos”, se eu os via como ausentes e incompletos, dentro de mim? Passo a passo, caminho a caminho, desilusão a desilusão, me vi entregue à imperfeição. Tive que aprender a lidar com as dores, e por tabela, também com a dificuldade em aceitar minhas imperfeições. Me reconheci falível, incompleto, tantas vezes ausente e inclusive, cruel… Abandonei, da mesma forma como senti-me abandonado. Agredi, da mesma forma que me senti agredido. A irresponsabilidade que tanto critiquei, também foi minha companheira. Quanta vergonha. Medo. Culpa. Raiva. Tristeza. Arrependimento. Olhar a “sombra” nos olhos e dizer “sim, este também sou eu”, sem vitimismo nem escapismo, abre um espaço de compreensão maior. O Amor Maior se mostra na nossa humanidade. Na imperfeição, bem pequenininho, posso receber o que veio dos meus pais. Da forma como veio. Imperfeitamente perfeita. Foi o suficiente. E agora prossigo.
Alex Possato