A gratidão em relação ao dinheiro
No mundo sistêmico tudo está certo. Este dinheiro veio através de muita raiva, disputa, sensação de injustiça. Bert Hellinger diz que a herança nunca é merecida. E se recebemos algo, seja de uma herança, partilha no divórcio, divisão de uma sociedade, doação ou até prêmio em loteria, será somente com muita gratidão, respeito e vontade de fazer crescer o patrimônio que conseguiremos ver a prosperidade sorrir na nossa horta.
Bem… posso falar do meu lado: eu não tinha gratidão. Na verdade, estava ávido pelo dinheiro, pois minha empresa passava uma temporada deficitária e eu entrei no programa muito conhecido: medo da falência. Medo de passar fome. Medo de ir morar embaixo da ponte. Algo que não tem lógica, pois nunca passei extrema dificuldade, mas uma sombra que carreguei de algum lugar do passado familiar.
Aquilo que não foi resolvido no sistema familiar veio a tona. Mas não era totalmente realidade. A sensação terrível de estar a beira de um colapso financeiro era muito mais imaginação. O universo estava me ensinando, neste momento, a lidar com isso. Com as dores da falta, que com certeza foram vividas por ancestrais durante centenas de gerações, e que eu estava agora revisitando, através de uma crise. Só uma crise.
Fato é que não soube lidar tão bem. Tive que me desestruturar. E através da desestrutura, tomei decisões bem erradas. Que pioraram a situação. A pindaíba foi intensa. Assim tinha que ser. O passado pedia para ser visto, e desta forma, vivendo as dores, eu poderia olhar. Olhar para todos aqueles que padeceram, sem dinheiro, sem abrigo, sem aconchego, sem nada. Olhar, sem fugir deles. Sem tentar me tornar próspero, só para não enfrentar a dor que eles sentiram.
Pode parecer estranho, mas esse olhar dá força. Porque aí sim tomei posse da minha “herança” real: a luta e a força dos meus antepassados. E então, comecei a crescer. Com minhas próprias pernas.
Alex Possato