A fidelidade da criança interior
Continuando o nosso estudo de frases sistêmicas.
A criança interior possui uma fidelidade drástica em relação ao sofrimento dos pais e deseja se sacrificar no lugar deles, como se pudesse salvá-los. Imagine esta situação: você, bem pequenininho, vê o pai sofrendo. Preocupado. Amargurado pelos problemas – que na sua tenra idade, você nem tem entendimento do que é. Isso ocorre um dia, dois dias, um mês, anos… E você ama profundamente seu pai. Na sua imaginação amorosamente drástica, diz pra si mesmo: um dia vou fazer papai feliz. Um dia vou tirá-lo deste problema e ele vai poder sorrir novamente! Acho que um fato assim pode ser imaginado por qualquer um como plausível, não é mesmo? Eu, você, todos nós talvez já tenhamos sentido algo parecido, seja pelo papai, pela mamãe, avós, irmãos, nossos animais de estimação. A criança possui um amor trágico, que se apega fortemente ao sofrimento e à expiação.
Quando, num trabalho terapêutico, chega o impactante momento de descobrirmos que estamos adotando estratégias de sofrimento na nossa vida, como se fosse uma compensação para o sofrimento que nossos pais viveram, dizemos a frase acima. “Eu faço por você, papai!” ou “eu morro por você, mamãe!” Esta frase dura funciona como um remédio amargo. Tomar consciência de que estamos sabotando nossa alegria e felicidade para honrar a dor do passado familiar, pode (e em geral é) profundamente transformador!
Alex Possato