A liberdade de cada um dentro da relação
Imagino uma relação afetiva como uma viagem à um país distante e exótico. A cada instante, uma surpresa. Nem sempre agradável, mas às vezes, maravilhosa. Ocorrem coisas que quebram com todas as nossas crenças e formas de agir, afinal, é uma cultura bem diferente. Percebemos como nossa rigidez mental aprisiona, condena, machuca, ofende. Mas num país que não é o nosso, não temos o direito de fazer nada, a não ser, observar e aprender com o diferente.
Assim também deveria ser dentro da relação, que é um ótimo lugar para observarmos, sem intenção de mudar nada. Encontramos ao nosso lado um universo bem diferente do nosso. E isso é fundamental para o desenvolvimento, para o crescimento, para o aprendizado do todo. “Um sistema vive devido a um intercâmbio permanente”, dizem os consultores sistêmicos Siebke Kaat e Anton de Kroon. E acrescentam: “Se, por qualquer motivo se estanca este intercâmbio, o sistema começa a perder a força vital”. Por isso, a troca entre os “diferentes” é muito saudável. Não há porque querer obrigar o outro a ser como você, nem vice-e-versa.
Quando olhamos para uma relação como um “sistema”, que promove a vida a todos os envolvidos, saímos da ilusão de “conto de fadas”. O objetivo maior do Universo quando promove o encontro de duas pessoas é o crescimento, o desenvolvimento da humanidade, a manifestação dos melhores dons que só podem vir através das mãos do homem, o que é muito facilitado quando se estabelecem relações. Esqueça a idéia autocentrada de “encontrar alguém para ser feliz”. Em primeiro lugar, porque não encontramos “alguém”: o universo nos brinda com a presença de alguém. E em segundo lugar, porque nos vemos felizes quando percebemos o nosso lugar diante da vida, e desempenhamos este papel com maturidade e alegria. Estejamos em relação ou não. Quem sabe, com esta consciência, possamos esquecer um pouquinho a hipnose coletiva do amor romântico e idealizado…
Alex Possato