Abuso e estupro: olhar da constelação familiar sistêmica
Uma vez constelei uma jovem, cuja questão de trabalho era algo como falta de energia para a vida. Porém, durante a dinâmica, percebeu-se que houve um abuso. O movimento dos representantes durante a constelação demonstrou isso. Este foi somente um aspecto visto. Havia mortos excluídos, abandonos… Porém, não foi falado nada sobre a questão do abuso. Mas o movimento indicou. Fato que a cliente, posteriormente, confirmou. E para meu espanto, soube-se mais tarde que a mãe também sofrera abuso, e não falara para ninguém. A sina se repetiu: o que é excluído no passado, surge novamente em gerações posteriores, para que a dor possa ser vista, e deixada… Assim, todo o sistema se alivia… Para que isso ocorra, alguém inconscientemente se coloca a disposição de sofrer na própria pele para que a harmonia seja reestabelecida. É lógico que, conscientemente, ninguém deseja sofrer. Mas a força do sistema é sempre maior do que a vontade individual.
Lembro que estamos falando de trabalho terapêutico. De maneira nenhuma, nem Hellinger nem ninguém com a capacidade intelectual e emocional saudável diria que violência sexual é um ato de amor. O que a constelação familiar sistêmica aponta são caminhos para aliviar as consequências danosas de traumas e repetições de padrões familiares inconscientes. Estes caminhos, quando aprofundados, levarão a compreensões maiores, podendo abrir o coração daquela pessoa atingida pela dor para sentimentos sublimes.
Aqueles que passaram pelas maiores dores são justamente os mais preparados para demonstrarem maior compaixão.
Mas muitos não estarão prontos para amar. E partirão para a guerra. Ou para a tentativa do esquecimento. Desta forma, irão perpetuar o mecanismo, cuja consequência é gerar mais e mais violência para os descendentes… Até que, em algum momento, alguém consiga olhar finalmente para todos os lados: o abusador, o abusado e o sistema que os levou a se encontrarem numa situação de ajuste.
Assim, a paz pode se instalar.
Alex Possato