Aprendendo a olhar para nossas dores
Ouço histórias escabrosas. Que deixam as minhas no chinelo. E justo eu, que adoro histórias, sou obrigado a sair delas para entender e penetrar nas dores profundas da alma. Que existem por detrás de todas as histórias, todos os argumentos. Quantas vezes a dor do abandono de alguém que foi deixado pelos pais é tão igual à dor do filho de pais que trabalhavam demais e não estavam presentes?
Aprendemos, através das constelações, que carregamos traumas transgeracionais. Podemos estar vivendo o pavor de morte de um refugiado de guerra, sem nunca ter ouvido um tiro. Talvez o pânico da fome, mesmo tendo uma infância sem miséria. A sensação dilacerante de solidão, mesmo dentro de uma família razoavelmente presente…
Por isso, é importante não se prender tanto às histórias. O que importa são estas sensações interiores: o medo, o pânico, a solidão, a dor emocional… Aprender, em primeiro lugar, a olhá-las. Através delas, nos conectamos a um refugiado esquecido. Ao aborto oculto. Aos mortos em tragédias passadas. E vamos percebendo, aos poucos, que estas memórias são… memórias. Ao fazer contato com tantos sentimentos profundos, nos tornamos fortes. Inteligentes, emocionalmente falando. Esse é o grande presente que o universo nos brinda, ao lidarmos, conscientemente, com nossas questões emocionais: a fortaleza. Que sempre vem acompanhada da compaixão. Nos tornamos mais humanos. E mais livres.
Alex Possato