As dores da infância
Quantas vezes recebo pessoas desiludidas com sua vida amorosa. Dores profundas por rompimentos dolorosos ou, muitas vezes, não suportando mais continuar numa relação que já acabou, mas também sem coragem de dar um basta. E eu me pergunto: o que faz uma pessoa continuar sofrendo, ao lado de alguém que não lhe faz feliz? Ou ainda: como alguém pode continuar carregando a dor de uma separação que muitas vezes ocorreu anos atrás, e não se abrir para algo novo?
Poderia afirmar que, na maioria dos casos, existem dores profundas na infância. Sensação (real ou sistêmica) de abandono, maus tratos, desprezo, desvalidação e humilhação. Porque abrir-se para um relacionamento não é algo tão difícil. A questão é que a pessoa está tão ferida, que não quer mais se permitir o mínimo de atrito que fatalmente ocorrerá numa relação. E no caso das pessoas que estão presas a relações tóxicas, a pessoa foi tão ferida na infância que relaciona o atual “estado” a uma forma possível de amar. Amar através da dor, amar através do sofrimento, tal qual foi vivido no passado.
Acostumamos com o conhecido. A mente humana é plástica e condicionada. Filhos do abandono e dos maus tratos, embora possam dizer que estão a procura da felicidade, fidelidade e paz, atraem na verdade abandono e maus tratos. É aquilo que a própria mente condicionou a entender por “cuidados”. E não há outro caminho: a própria pessoa precisará entrar em contato com estes padrões que, no fundo, gosta e reconhece como sendo sua própria essência. Sou um abandonado! Gosto e procuro relações de conflito e desprezo! Atraio parceiros que traem! Procuro sempre ser abandonado!
Sim, não estou brincando! Este é o início da cura. É o momento em que começo a perceber os mecanismos que me guiam pela vida. Somente aí, quando controlo o meu carro e saio do piloto automático, começarei a ter novas possibilidades de escolha. Prepare-se para um longo, duro, mas frutífero aprendizado!
Alex Possato