Como lidar com pais narcisistas?
Na minha visão, muitos confundem a idéia de Amor que Bert Hellinger transmite na constelação familiar com “tratar bem”, “ser social”, “ceder às convenções”, respeito ou moralismos… Olhar o Amor através deste ângulo é desconhecer a jornada terapêutica do mestre alemão, que passou por muitos caminhos, e como bom (eu diria ótimo!) terapeuta, ele sabia muito bem o que estava fazendo. É necessário analisar o contexto e intenção das citações de Hellinger, antes de tomar algo como premissa. Não é possível negar a experiência do cliente, se desejamos auxiliá-lo. Como dizia o psicólogo Carl Rogers, “não podemos mudar, não podemos nos afastar do que somos, se não aceitarmos profundamente o que somos”, disse ele.
“Você tem o direito de ter muita raiva do seu pai!” disparo, em meio à consulta.
Quantas vezes, o cliente que já estudou um pouco de constelação familiar levanta a sobrancelha e questiona: “Mas eu não tenho que amá-lo?”
O meu papel, neste momento, é trazer clareza às dores da pessoa. Que só continuam vivas porque ele nega estas dores. Nega inclusive “validar” poder sentir estas dores. Como uma criança que fez alguma coisa que não devia, se sente culpada por sentir raiva do pai ou mãe, porque eles a machucaram. E diz, inconscientemente: “eu merecia mesmo! A culpa foi minha!”
A criança emocionalmente ferida que reside dentro do adulto precisa crescer. E isso só ocorre quando ela aprende a colocar limites. “Sim, papai me machucou muito!” “Sim, mamãe me deixou com muito medo, ao abandonar-me!” O cliente começa a perceber que, enquanto criança, não poderia reagir nem defender-se. Mas hoje, como adulto, pode.
Assim, a relação que temos com nossos pais, principalmente nas ações disfuncionais deles, fica madura. Já não precisamos mais agradá-los. E assim, deixamos de permitir que sejamos invadidos. O verdadeiro Amor flui da maturidade. O amor, confundido com permissividade, é infantil e, ao contrário do que possa parecer, afasta mais do que aproxima.
Alex Possato