Como ser um constelador?
Resolvi escrever um pouco sobre o curso de constelação familiar que faço. E começo falando sobre a preparação que propicio ao aluno. Pois constelar é um serviço exigente. Estaremos reverberando o nosso campo junto com o campo do cliente, e isso precisa ser feito em consonância com as Ordens do Amor, o que significa que preciso sempre olhar: o que estou excluindo? Ou: a quem estou identificado em relação ao passado familiar? Estou fora de ordem hierárquica no meu sistema? Permito o livre fluxo do dar e receber?
Minha atenção primeira é, então, auxiliar o aluno a se observar diante do seu próprio sistema familiar.
Um terapeuta de constelação necessita diariamente reequilibrar-se diante do próprio sistema, para que assim consiga lidar de forma adequada com os sistemas dos clientes.
Além deste mergulho necessário no próprio sistema familiar, vou introduzindo técnicas de entrevista, condução de movimentos sistêmicos, sensibilização e cultivo ao silêncio, já que o campo é percebido através da observação distanciada, sem julgamento.
Em pouco tempo, lanço os alunos novos ao desafio de conduzirem constelações de clientes, através do Projeto Incluir, mesmo que este aluno tenha pouca experiência – eu estarei junto, orientando, e a aprendizagem que um aluno adquire nestas práticas é grandiosa.
Gradualmente, vamos avançando também no conhecimento da teoria da constelação familiar sistêmica, segundo Bert Hellinger. Iniciamos, como disse acima, pelas Ordens do Amor. Estudamos as dinâmicas na relação entre pais e filhos. Posteriormente, as dinâmicas nas relações afetivas. E finalmente, conheceremos as Ordens da Ajuda, que orienta o fluxo do Amor na relação entre terapeuta-cliente. Estes módulos são muito bonitos e instigantes, já que ao mesmo tempo que vamos aprendendo a “teoria”, estamos sendo trabalhados intensamente, praticamos passivamente e ativamente em exercícios, somos desafiados a nos colocar no papel de terapeuta e condutor de grupos, e assim a constelação começa a fazer parte da estrutura do aluno.
Esta fase permite uma preparação sólida tanto no sentido intelectual, mas sobretudo, em relação a como lidar com a ampliação de consciência e percepção ampliada que o trabalhar com a constelação propicia.
Lógico que é passo-a-passo. Muitas pessoas terão mais dificuldade em trabalhar com uma terapia predominantemente intuitiva e energética – por serem mais racionais. Mas isso não é problema. Eu vou auxiliando, buscando realmente dar a mão a estas pessoas (pois um dia eu fui o que chamo de “cabeção” – uma pessoa que racionalizava tudo e com medo da sensibilidade!) e de acordo com a permissão do aluno, vamos explorando este campo lindo e amplo dos diversos sistemas que teremos acesso. Em algum momento, o aluno começa a confiar na percepção sensorial e entende que a razão pode até vir depois, mas não durante um trabalho de constelação familiar.
Aprendendo o trabalho com o grupo, iremos adentrando nas técnicas de atendimento individual: âncoras de solo, bonequinhos e constelação na imaginação. E paralelo a isso, o aluno deverá se aprofundar um pouco mais na sua habilidade de entrevistar e extrair a questão do cliente, através do desenvolvimento da comunicação a dois, que é diferente da comunicação em grupo. Para isso, o conhecimento de alguns aspectos da PNL (programação neurolinguística) auxiliarão, pois o que diferencia realmente a constelação individual da constelação em grupo, para o terapeuta, é a forma de atender, abordar a questão, ouvir o cliente e permitir que o campo sistêmico se demonstre. Ou seja, a energia da constelação é a mesma, mas o caminho para chegar até ela é diferente.
São 9 módulos intensos, onde em praticamente todos os grupos que conduzi, criou-se uma amizade pouco comum: as pessoas aprendem realmente a gostar uma das outras, e mesmo diante daquelas pessoas com quem temos diferenças de pensamento ou comportamento, existe o respeito e até a admiração.
Aos poucos, o aprendizado vai se mostrando, de forma não linear: a constelação não se aprende por um acúmulo de estudo, de conhecimento e nem mesmo de prática. É uma experiência que vai, no seu tempo, fazendo parte de nós. Ao término do curso, todos saem sabendo constelar. Porém, tenho que dizer: a formação de um terapeuta tem a ver com a experimentação, os anos de prática, o auto-trabalho… E neste sentido, coloco a disposição o Projeto Incluir para todos os ex-alunos também, de todos os cursos que fizemos juntos, para virem treinar. É tão bom quando vejo alguém que já fez o curso anos antes, retornar! Dá uma satisfação e alegria enormes!
Ah, não dá para participar do Projeto Incluir?
Não tem problema! Disponibilizo a participação dos ex-alunos em meus workshops e no próprio curso de formação – que pode ser refeito totalmente ou em alguns módulos, além de fornecer material constante através das redes sociais, buscando assim auxiliar no desenvolvimento de cada um, sempre que for possível!
Tenho que dizer que o Curso é um primeiro passo. Nos “formamos” terapeutas sistêmicos através do constante trabalho interno, como falei acima, da experimentação em atendimentos individuais e em grupo, através da participação em rodas de constelação, e principalmente pela observação consciente dos próprios pensamentos e estratégias de comportamento, onde perceberemos nossas mudanças e nossos bloqueios, onde estamos em desequilíbrio e onde já conseguimos fluir no Amor maior, que significa, em resumo, permitir que tudo seja como é. Tornar-se um constelador é, portanto, um caminho também de ampliação de consciência e despertar interior, a ponto de eu poder afirmar: jamais seremos o mesmo que entrou num curso de constelação familiar sistêmica!