Libertando-se do passado
Recebi dias desses o comentário de uma mãe chateada com as palavras da filha, que disse: mãe, agora casei, e você não faz mais parte da família. Aprendi isso com a constelação!
Bem, parece óbvio que não existe uma boa relação entre elas, e podemos dizer muitas coisas, utilizando diversos argumentos para despejar nossa mágoa.
Voltei neste domingo de uma visita à minha mãe, que está agora no interior de São Paulo, vivendo numa pequena e bucólica cidade na Serra da Mantiqueira. Nunca escondi meus problemas com ela, e ela também carrega o seu pacote de questões comigo, e por aí vai… Assim são as famílias. Temos muitas mágoas para trabalhar, dores diversas… Mas a terapia auxilia a olhar para tudo isso. E aprender a carregar nossas dores da melhor forma. Porque, conforme vamos entendendo o processo da constelação familiar, descobrimos que todos somos vítimas e agressores ao mesmo tempo. Viver não é fácil nem confortável, e isso faz parte do crescimento.
Não fazemos terapia para culpar ninguém – nem a nós mesmos. Fazemos terapia para entender o funcionamento da nossa mente, nossos padrões emocionais e comportamentais, e ficar em paz. A terapia nos ajuda a olhar para nossa história através de um ângulo determinado, para que possamos sair do prisão que a mente inconsciente nos condena, enquanto não olhamos com amor para nossas dores. Ficar julgando e condenando o passado, é no fundo um mecanismo que perpetua a prisão, nos mantendo presos aos pais, através das cobranças e tentativas inconscientes de resgates impraticáveis. A terapia nos pede para amadurecermos. Olhando também para a história dos nossos pais e avós, e entendendo com o coração a saga que foi a sobrevivência de cada um deles. Até chegar na nossa gestação. Este é o milagre que uma criança não entende. Mas o adulto sim. E ao entender, este adulto está pronto para seguir sua própria vida, com gratidão e força. O passado ficará no passado.
Alex Possato