Na imperfeição, deixamos de julgar
Estou me deliciando com a autobiografia do grande mestre alemão, Bert Hellinger. Saber como ele viveu, como foi a infância, suas birras, traumas, escolhas, medos, convicções, nos aproxima do ser humano que ele foi, auxiliando a olhar o seu legado de forma madura, menos idealizada e romantizada. Hellinger tinha problemas como todos nós. E lidou com a ingratidão aos pais até a fase madura, como ele mesmo relata. Diz, por exemplo: “Mesmo reconhecendo a importância que minha mãe tivera para mim, eu ainda não estava em total harmonia com ela. Sobretudo ao chegar à idade avançada, muitas vezes sentia-me invadido pela tristeza e pelo abandono quando pensava que meu irmão devia ter sido o filho preferido dela”. Tão nobre se expor desta maneira! Que bom poder ler estas palavras. Pois vejo que um dos grandes trabalhos que tenho com a constelação é abrir espaço para que as pessoas se aceitem como são. Andando, passo a passo no caminho da compreensão, da terapia, do reconhecimento das próprias dores, sem querer atropelar processos.
Não temos que amar nossos pais! Não temos que tomá-los em nosso coração! Não temos que ir para a vida! Tudo isso é um despertar. Um desabrochar, que naturalmente já está acontecendo, desde o nascimento. E continuará até o último dia de vida. Por isso, ao invés de mirarmos na perfeição, podemos olhar para a imperfeição como algo totalmente normal. Tanto a nossa, quanto a de nossos pais. Na imperfeição, deixamos de julgar. Suavizamos nosso olhar. E começamos a descobrir “quem realmente são nossos pais”. Deste lugar, acredito, surge o verdadeiro amor.
Alex Possato