O olhar amoroso para a morte
Minha família biológica próxima é muito pequena. Extremamente pequena. E devido a inúmeros lances do destino, hoje existe eu e minha mãe. Ela já em avançada idade, e envolvida por diversos aspectos de doenças que corroem sua vitalidade e autoestima. Embora nunca saibamos o dia do amanhã, lido com questões de saúde e a proximidade da morte o tempo todo. Vejo o quanto a maioria das pessoas busca não olhar para o fim de forma mais clara e real. E dizem: vamos pra vida! Vamos curtir! Como se fosse possível enganar esta Grande Senhora, que invariavelmente chega, para novos e velhos, doentes e sãos, culpados e inocentes. E lógico que dá medo de que tudo acabe! Alguns dizem: não tenho medo da morte! Eu digo: tenho muito, muito medo! Porém, a sabedoria sistêmica me ensina a incluir. E quando falamos incluir, nesta situação, é incluir também o medo. A dor. É incluir a dúvida: será que realmente há algo do outro lado? É incluir a solidão daqueles que ficam sem seu ente amado. É incluir a culpa por não ter pedido perdão quando ainda era tempo. É incluir o alívio: enfim, o sofrimento acabou. É incluir, sim, a doença e a morte. Mas também, incluir a vida. Pois tudo isso que estou falando, é vida. Nuances de vida, que nos ensina muito. E se eu consigo observar com um pouco de distância, enxergo beleza neste processo todo. A proximidade do fim é um grande motivador, que instiga a nossa capacidade de amar, aqui e agora, esquecendo toda a dor e mágoa… A morte, assim, poderá levar esse pesos para o túmulo. Desta forma, permanece somente o amor.
Alex Possato