O Perdão na Relação Afetiva
Bert Hellinger diz que, quando falamos “eu perdôo você”, nos colocamos acima do outro. O simples “eu perdôo você” não traz paz. Vamos falar sobre isso?
Em todas as relações existem deveres e direitos, grande parte deles implícitas pelos códigos de ética e moral daquela dupla. O problema já começa aí. As pessoas não falam quais são as coisas que incomodam nelas. Não são claras. Não conversamos, por exemplo, sobre a necessidade de estar só. Ou a falta que faz não estar acompanhado. Como lidar com a família do outro. Quem cuida da casa. Como rachar as despesas. Os medos internos. As piadas de mau gosto. A forma de interagir com amigos. A vontade de fazer coisas diferentes. A decoração do lar. O ritmo do casal.
Dia após dia, pode ser que nossa forma está em conflito com a forma de ser do outro. E quando algo muito grave acontece, a relação sofre um profundo estremecimento. A gente entra em relações talvez como nossos pais e avós entraram. Como se, só pelo fato de estar numa relação, ela se ajustaria naturalmente. Mas os clientes que chegam em consultório demonstram que nem as próprias relações se regulam por osmose, como também as relações dos ancestrais não se ajustaram por si mesmas. Antigamente, não havia papo. As coisas funcionavam, ou não. Nossas famílias foram constituídas por relações muito disfuncionais. Abusos de todos os tipos.
Isso mudou. Podemos hoje escolher que tipo de relação queremos. Como iremos nos conduzir na família, mesmo que destoe das ordens pré-estabelecidas. Podemos falar, cobrar e também ouvir cobranças.
Todos nós erramos, pisamos na bola. Deixamos de ver o outro e mal sabemos dos nossos desejos. A grande questão não é perdoar, como quando crianças: ficávamos de mal e depois dávamos o dedinho. A questão é lidarmos com as relações como adultos, percebendo nossa parte, e a outra parte também. Aprendendo a expressar nossas dores e nossos amores. Como humanos que somos. Já que perdoar é divino. E eu acho que ainda não chegamos lá…
Alex Possato