O preço do crescimento
A arte da ajuda tem suas particularidades. Através de Bert Hellinger, entrei em contato com algo que antes eu até percebia, mas não tinha tanta clareza: o quanto que muitos movimentos de ajuda ao outro não é exatamente pelo e para o outro, mas é por nós mesmos. A gente tem dores não aceitas dentro de nós, e o sofrimento do outro (e às vezes nem tem tanto sofrimento assim) funciona como um espelho, nos provocando, causando inconformismo… no fundo, queremos eliminar a dor de fora para não ter que olhar a dor de dentro.
Como seres humanos, não temos muita consciência do que está escondido “debaixo do tapete” em termos de emoções, sentimentos e traumas. E o outro sempre será um tipo de espelho, para o bem e para o mal. Na realidade, o mundo é aquilo que definimos dele, de acordo com nossas crenças e nossa inteligência emocional.
Quando estamos mais ou menos em paz com nosso conteúdo interno, entramos em contato com a essência das situações. Centrados, podemos perceber: podemos fazer algo? Não podemos? Existe realmente uma situação de emergência, ou é melhor permitir que o outro encontre a sua própria força e a sua própria solução?
Este tipo de ajuda, proporciona a vida. Muitas vezes, nem é tão bem visto, porque é uma ação que visa o bem-estar a médio prazo, e não remediar algo… Uma companheira de Brasília, em situação financeira difícil, disse recentemente: percebi que não deveria ter aceito a ajuda de tantos amigos que me auxiliaram de boa vontade, me emprestando dinheiro no passado. Só prorroguei o sofrimento e encobri tantas coisas que eu não estava olhando, que tive que encarar quando não havia mais recursos disponíveis. E aí comecei a aprender a lição.
Pois é, temos muitas vezes amor pelas pessoas que queremos ajudar. Mas é importante separar a nossa própria dor, da real e essencial necessidade do outro. Devemos até correr o risco de que o outro vire a cara para nós. Esse é o preço do crescimento. Dele. E nosso.
Alex Possato