O sofrimento é provocado pela resistência
O que provoca o sofrimento é a resistência. E quantas vezes não percebemos que estamos resistindo a um fato? E que falta incluir muita coisa…
Vamos a um exemplo: nunca aceitei que meu pai abandonou o casamento antes do meu nascimento. Mas como a falta do pai era uma situação muito natural, pois nunca vivi com ele em casa, nem percebi que não aceitava a ausência do pai. Esta energia ficou num limbo, como um pequeno espinho dentro da meia que volta e meia me machuca, provocando dores eventuais e recorrentes, embora não profunda o suficiente para que eu tire os sapatos, as meias, e verifique o que está acontecendo.
Daí, conscientemente, eu dizia: sou assim porque faltou papai em casa. Tenho pouca força de ação porque a presença do masculino foi negada. E assim a mente se perde em suas múltiplas e infrutíferas explicações. Se algum terapeuta me dissesse: “Alex, você não está olhando para a perda do pai”, eu diria, com um sorriso sarcástico: “Claro que estou! Falo disso a vida inteira!” Porém, ele teria razão: eu não “olhei” de verdade. Nunca quis tirar o sapato, as meias, procurar o espinho e “ver”. Eu rejeitei, na essência, a dor e muito mais que pode existir. O choro contido na garganta. O grito de ódio pela não presença. A falta de proteção. A firmeza e incentivo que pouco houve. A simples possibilidade de deitar nos ombros dele e saber que continuaria ao meu lado. Os poucos espaços de alegria, rompidos por longos afastamentos. O orgulho que senti, e foi passo a passo se transformando em decepção. O amor por ele, que apesar de tudo, continua aqui, batendo no meio do peito… Constelar é dizer sim para tudo isso. E muito mais. Por isso, uma constelação é só um passo, de uma jornada infinita, viva, que a cada dia mostrará novas facetas daquilo que já aprendemos a incluir… E o que ainda não conseguimos… Assim crescemos. E transformamos dor em força.
Alex Possato