Olhando para o fim
Não existe começo sem passarmos pelo final. Antes de chegarmos a uma nova relação, vem a despedida das antigas. Uma nova carreira não se apresentará enquanto alimentamos sonhos ou mágoas dos trabalhos passados. Deixaremos de criar “aquilo que é nosso” quando estamos presos nos ideais da família de origem. O dinheiro que está esperando ser conquistado aguarda a reivindicação da grana não recebida de outrora.
As perdas dolorosas nos preparam para encararmos as conquistas com um olhar adulto e um espírito maduro. Por isso, um terapeuta de constelação se depara tanto com “mortes não vistas”. Exatamente porque é muito difícil aceitarmos as perdas – nossos pais e antepassados também não souberam lidar – e assim, elas se repetem na nossa vida, pedindo para serem vistas, liberadas…
Saber e permitir que a vida seja feita de conquistas e derrotas faz parte do crescimento. Da saída do pensamento mágico infantil para a realidade da vida adulta. Sim, eu olho para meu cliente e gosto de perceber onde ele pode chegar. Mas aprendi que o passo mais importante é o próximo. E quantas e quantas vezes o próximo passo aponta para aquele lugar onde há negação, exclusão, raiva, vitimismo… Não é possível andar para frente se estamos amarrados a um poste. E xingar a corda e o poste não fará a menor diferença!
Procuro auxiliar a olhar. Olhar a parte nossa que se permitiu ser amarrada. Que até precisava disso. Talvez ainda goste de continuar presa. Entender, com calma, paciência, tudo o que foi vivenciado. Os aprendizados desta situação. As dores e alegrias de estar preso naquilo… E quando a responsabilidade é assumida e o aprendizado concluído, naturalmente o nó se desfaz. Meu cliente não sente mais a necessidade de sair correndo e alcançar um sonho, para fugir daquilo que acabou de morrer. Ele simplesmente está livre para andar. E isso é o suficiente.
Alex Possato00