Quando um terapeuta deve interferir na constelação?
Por Alex Possato

Quando um terapeuta deve interferir na constelação?

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Antes de mais nada, devo explicar que a constelação familiar sistêmica é um método aberto, que é praticado de formas diversas pelo mundo. Não só Bert Hellinger veio modificando a sua forma de atuar perante a constelação, como também diversos outros terapeutas, de linhas diversas, acabaram incorporando formas e métodos dentro da dinâmica, fazendo com que uma constelação conduzida por um seja talvez bem diferente de outra, conduzida por outro profissional com outra experiência. Acho que todas as formas são válidas.

Dito isso, o meu intuito é, neste momento, colocar algumas linhas gerais para quem está aprendendo a conduzir constelação familiar sistêmica e acrescentar formas novas de pensar, de agir, de perceber. E a primeira coisa que e vem é: respeite o método que lhe foi ensinado.

Foi assim o meu caminho como facilitador, e depois, como instrutor. Estudei o método com a alemã Theresia Spyra, que por sua vez aprendeu com outra alemã Mimansa Erika Farn… esta, discípula direta de Bert Hellinger e uma das pioneiras, se não a pioneira da constelação familiar sistêmica no Brasil.

E falando sobre a maneira que aprendi, posso dizer que num trabalho sistêmico, quando os participantes estão suficientemente centrados, percebendo o sistema sem medo, com a mente mais ou menos livre dos conceitos pré-determinados, e sem se deixar prender por emoções exageradas, a constelação familiar anda sozinha. Mas para que os participantes possam estar centrados, é necessário que o facilitador esteja. E é muito comum perceber facilitadores nervosos, presos nas próprias ideias, nas emoções pessoais e sem saber lidar com a energia sistêmica que flui do campo… principalmente facilitadores inexperientes.

Eu também comecei assim, e não tem mal nenhum nisso. Quando a gente começa a dirigir, dá um nervoso mesmo, não é assim? Por isso, a minha instrução é: centre-se! Aprenda a deixar seus pensamentos passarem, sem dar bola para eles. Aprenda a deixar suas emoções passarem, sem embarcar nelas. Resista à primeira ação, e espere o máximo possível. Aprenda a sustentar a energia da constelação. E isso se faz com muito treino. Participando de muitas constelações. Se constelando e servindo de representante dezenas e dezenas de vezes. Se necessário, anos a fio.

Aos poucos, você irá percebendo a maravilhosa dinâmica da constelação sistêmica, que surge perante seus olhos antes de haver qualquer movimento. Você começa a abrir um canal intuitivo, onde frases surgem na sua cabeça, e quando faladas, resultam num movimento adequado ou em mudanças na energia do trabalho. A ideia de colocar um representante fica clara na sua mente, e quando você coloca, vê a dinâmica do trabalho alterada. Você, às vezes, é instruído a pedir um movimento para algum representante, e isso se mostra significativo.

A interferência deve ser simples. Não há discursos. Não há discussões nem tentativa de ensinar alguém. Passar lições. Mostrar conhecimento. Julgar, criticar ou apoiar quem quer que seja. Você, como facilitador, é somente um instrumento… uma flauta oca, por onde o sistema irá soprar suas notas. Você não quer nada. Não quer chegar em lugar nenhum. Agradar ninguém: nem o cliente, nem ao sistema, nem a si mesmo. Você se deixa conduzir por algo maior.

Talvez você pense: em não consigo isso! Minha mente não para de pensar! Sim, eu sei. A minha mente também não para de pensar. Porém, como disse acima, com muito treino (e a quantidade é muito relativa), você começa a entrar no campo com mais facilidade, e o seu trabalho na constelação começa a fluir de um outro lugar. O campo sistêmico se torna um campo de meditação. E você se deixa conduzir, embora não perca a sua capacidade de discernimento. Por isso, vou deixar umas dicas de quando um terapeuta deve interferir na constelação. Veja bem, são dicas, não regras. Em primeiro lugar, a intuição deve dizer algo.

1 – receber internamente um sinal claro de colocar um representante, tirar ou substituir alguém, pedir um movimento ou falar uma frase – se você não tem certeza do sinal, aguarde. Se o sinal é real, voltará novamente à sua mente;

2 – quando sentir que o movimento (ou a falta de movimento) está se repetindo, sem sair do mesmo padrão, indefinidamente;

3 – quando perceber que o representante está perdido em seus próprios pensamentos e emoções, e este tipo de padrão está destoando da constelação, como um todo;

4 – quando você conseguiu sustentar “o não-agir” durante tempo suficiente, e nada ocorre;

5 – quando existe algum tipo de risco à integridade física dos representantes;

6 – quando o representante deixa de obedecer aos comandos, e isso destoa do contexto da constelação – o que quer dizer que o representante entrou num contexto pessoal.

Lembre-se, querido. Você pode às vezes se perder. Ficar confuso. Entrar nas próprias emoções. Neste caso, afaste-se um pouco do campo. Dê uma distância, respire tranquilamente, e volte ao comando. Desta forma, o que se passa internamente não ficará evidente no grupo, e assim  você não deixará que as pessoas se influenciem com a sua insegurança, dúvida, medo, confusão, raiva ou seja lá o que se manifestar que é seu, e não do sistema. Isso não significa combater ou negar o seu estado interno – significa assumi-lo como um todo, e ao mesmo tempo, não perder conexão com o seu papel de facilitador sistêmico. Entenda também: muitas vezes você “sentirá” emoções e sensações do sistema. Isso é comum. Você sentirá a confusão, a dúvida, o medo, a raiva, o desejo sexual ou outra sensação que tem a ver com a constelação que irá ocorrer. Por isso, mais importante ainda é aprender a não entrar nestas sensações, não se deixar dominar. Sentir… e deixar passar. Sentir… e deixar passar. E ao mesmo tempo, ter a firme intenção de se conectar ao sistema, e permitir-se ser um instrumento. Isso é um gesto humilde, e como somos pouco humildes, em geral, precisamos treinar. Repetir, repetir, repetir. O dia que você acreditar que pode conduzir uma constelação, e é um grande facilitador, você se deixou perder pelo ego, e mesmo que tenha bom conhecimento e experiência, não estará sendo um instrumento totalmente adequado.

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