Quem fica apenas com a bondade, destrói os relacionamentos…
Quando alguém me dá alguma coisa eu me alegro, mas também tenho má consciência, pois me sinto em dívida em relação a essa pessoa. Por isso também lhe dou alguma coisa e volto a me sentir inocente, porque me livro da obrigação.
Se gosto dessa pessoa, dou a ela um pouco mais do que recebi. Com isso, ela se sente em dívida comigo. Como também me ama, ela também retribui com um pouco mais. Então eu me sinto novamente em dívida com ela e, porque a amo, também lhe retribuo com um pouco mais. Assim, em função da necessidade de equilíbrio, cresce o intercâmbio entre as pessoas que se amam. Essa é uma bela função da consciência pessoal que, de certo modo, força a compensação e aumenta o intercâmbio no bem.
O mesmo acontece, porém, quando alguém me faz algo de mal. Então também quero retribuir, pois sinto necessidade de compensar. Se eu nada fizer contra essa pessoa, coloco em risco nossa relação, pois ela espera que eu lhe retribua na mesma moeda. Assim ela fica aliviada quando lhe retribuo nessa medida.
Porém, muitos não retribuem o mal ao outro na mesma medida, mas um pouco acrescido. Se ele lhes retribui também aumentando a dose, eles se vingam com um mal ainda maior. Assim vai crescendo entre eles o intercâmbio do mal. Nas relações políticas vemos numerosos exemplos disso.
Como se sai desse círculo vicioso? De um lado, é preciso vingar-se, pois quem fica apenas com a bondade destrói os relacionamentos. Mas é possível vingar-se com amor. Como? Fazendo também ao outro algo que lhe dói – é preciso – mas em menor escala. Com isso pode recomeçar o intercâmbio do bem.
Bert Hellinger – Conflito e Paz