Querido medo…
Querido medo. Quantas vezes você me pega desprevenido? Em cima daquele edifício, ou daquela montanha, é tão comum… Mas quando sinto a grana apertando, ou meus movimentos tolhidos… Como uma serpente esgueirando entre relvas, sinto você deslizando em meu peito, apertando meu coração e acelerando os batimentos. O ar fica curto, a visão turva, o chão balança e as pernas falseiam. Você é muito poderoso. Tentei dominá-lo a vida toda, mas confesso: não consegui. Você é o grande, e eu sou o pequeno. Assim como quando, lá atrás, pequenino e frágil, meu irmão apertava meu pescoço e me ameaçava de morte, diversas vezes, deixando-me prostrado, indefeso e, simultaneamente, dependente desta companhia ao mesmo tempo tóxica e querida. Afinal, ele era meu parceiro, na ausência constante da mãe e desaparecimento total do pai.
Cresci com você na minha cola. Eu e meu medo. Meu medo e eu. O sinal de alerta, sempre me defendendo dos riscos da vida: pouco real – quase sempre, imaginários. Vai acabar o dinheiro! Medo. Ela vai te deixar! Medo. Você vai cair! Medo. Eles vão zombar de você! Medo.
Entre a possibilidade de algo ruim ocorrer e o medo existe um oceano. Porém, como uma mãe extremamente zelosa, o medo corre na frente para me proteger. Agradeço a sua preocupação, querido medo! Mas eu cresci, e entendo que nem tudo é verdadeiro. Você me serviu de guardião, na infância. Trabalhou muito! Eu não tinha noção de quase nada… Mas hoje, pode descansar. Quando eu precisar, sei que continuará atento, pronto para me ajudar. Porém, pode ser mais tranquilo. O passado acabou, estou grande, e no aqui e agora, está tudo bem.
Alex Possato