Se o problema é financeiro, dê dinheiro
Ontem, uma amiga disse: uma querida depositou um dinheiro na minha conta. Puxa, fico sem jeito, nem sei como retribuir. Até porque ela não precisa, e não iria aceitar.
Pensei um pouco, e me veio: quando você puder, dê a alguém. Nem sempre precisamos retribuir diretamente à pessoa que nos auxiliou. Deus provê de diversas formas, e se pudéssemos ver o mundo e as pessoas como uma rede, entenderíamos que o “dar e receber” nem sempre é direto. Recebemos de um, damos a outro… está tudo certo.
Isso me fez parar para pensar na minha vida. Desde jovem, envolvido em pequenas enrascadas financeiras, minha mãe patrocinou muitas das minhas despesas… e pagou muitas das minhas dívidas. Antes disso, meus avós paternos proveram totalmente a minha vida, durante 8 anos. Na juventude, minha tia e minha mãe auxiliaram no pagamento da faculdade. Minha ex-esposa utilizou o dinheiro da sua herança para injetar fôlego na empresa que nós abrimos… e quebrou… Pouco tempo atrás, uma amiga, ao saber que eu estava numa situação apertada, emprestou um valor, sem perguntar quando, nem como eu poderia pagar. Quando me vi mal, usei também os recursos do banco, e apesar dos juros surreais, sempre me auxiliaram nos momentos de aperto. Se descontrolei, a culpa não foi do Banco, nem da minha mãe, ou do meu pai boêmio, nem da minha ex-esposa, como sempre quis acreditar, mas de mim mesmo, que tinha muita dificuldade em organizar o fluxo financeiro.
Se tenho gratidão pelo que recebi, tenho boa vontade em dar… e investir para multiplicar!
Vou ser franco: dinheiro sempre foi o meu problema. Não sabia controlar, não sabia gastar, não sabia dar. Posso dizer que uma parte de mim é muito mesquinho. Avarento. Sou capaz de me dar profissionalmente, como amigo, de diversas formas… mas dar em forma de dinheiro, sempre foi muito difícil. Muito difícil.
Minha mãe certa vez me disse: se o problema é financeiro, dê dinheiro. E eu, embora não tenha conseguido seguir o conselho na época, mais para frente, quando me vi apertado (fato tão recorrente em minha vida), comecei a fazer doações. Não importa para quem: meu caminho espiritual. A Igreja Católica. Amigos… De alguma forma, a quantidade de dinheiro que passava por mim começou a aumentar. E assim, eu podia continuar a dar. Colocar algumas pessoas para auxiliar em coisas que eu já não podia fazer, por falta de tempo. Pagar comissões para amigos organizarem meus trabalhos. E embora parecesse que eu estava tirando do meu próprio bolso para pagar aos outros, comecei a perceber que não. O fluxo aumentava, e sobrava sempre para eu poder reinvestir em coisas que achava necessário.
O dinheiro vem de outro lugar: uma época, veio dos meus avós, depois, da minha mãe, da minha tia. Da ex-esposa. Depois, dos amigos. Do banco. Hoje, dos clientes. Dos alunos que atendo. Mas na minha concepção, na verdade, na verdade, vem de Deus. Vem do Universo. Porque existe um caminho invisível, que faz as pessoas me encontrarem, acharem o meu trabalho. Existe um mecanismo que faz com que o dinheiro seja depositado em minha conta. Quem controla este mecanismo? Quem sabe o momento em que realmente preciso? Como alguém pode saber que farei bom uso do dinheiro, e que cuidarei com respeito dele?
Bem… fato é que eu não sabia receber. Não tinha real gratidão pelo dinheirinho suado dos meus avós que pagava minhas roupas (muitas delas eu reclamava por não serem da moda), meus livros, meus sapatos. Chantageava minha mãe, pedindo dinheiro emprestado para nunca devolver. Pegava dinheiro do banco com ódio contra “estes porcos capitalistas” que exploram a minoria. Tinha tanto problema com dinheiro que era mais fácil me desfazer dele, não controla-lo, jogá-lo fora… ficar sempre no vermelho.
Até que cansei-me da miséria. Miséria espiritual, diga-se de passagem. Refletida na minha conta bancária devedora. No nome sujo no SPC e Serasa. Percebi este ser tosco, apegado, invejoso, rancoroso, que via no dinheiro algo nojento, problemático, e nas pessoas que o possuíam como seres “do mal”. Embora eu quisesse sempre estar “do lado de lá”…
Começo a entender que não existe “lado de lá” nem “lado de cá”. Nem o dinheiro é negativo ou positivo. Existe o coração aberto ao fluxo da prosperidade, ou não. E existe a mente consciente capaz de controlar, organizar e cuidar das finanças ou não. Vejo hoje que a prosperidade tem a ver com estes dois fatores: coração aberto e mente organizada. Não adianta eu estar aberto para receber um bilhão de reais, se não sei organizar duzentos. Como posso cuidar de milhares de cabeças de gado, se olho para o pasto e nem tenho noção de quantas cabeças de gado tenho? Qual o meu gasto com estas cabeças de gado? Quanto elas valem? Quantas preciso vender mensalmente?
E da mesma maneira, não adianta ter uma mente organizada, se meu coração está fechado. Se não estou pronto para servir ao próximo. Se não sei me doar. Se não sei usar o dinheiro de forma amorosa, cuidadosa.
Sugiro ao leitor que, se de alguma forma, você se sente provocado por este texto, faça um exercício de gratidão. Escreva todos os momentos em que você recebeu benefícios financeiros, desde criança. Por menor que tenham sido. Desde a roupa que você usava, até a mesada mensal, se é que você teve. Desde o fato de ter um pão para comer, até o dinheiro para aquela viagem para a praia. O dinheiro que veio do namorado, da esposa. O lucro na venda do carro. Aquela herança que surgiu. O FGTS liberado num momento necessário. O seguro desemprego. O empréstimo do amigo. O uso do cheque especial. Agradeça tudo. Tenha vindo de alguém que você tem carinho, ou tenha vindo do governo ou da instituição financeira. Escreva, escreva tudo. E agradeça. Entenda que por detrás disso tudo, existe um comando maior. Que provê sua vida, no momento em que você mais precisa. E se possível, faça um pacto: vou usar cada centavo que passar pelas minhas mãos com amorosidade, respeito e liberdade. Usarei cada centavo em nome do crescimento. Do benefício ao próximo. Com inteligência, controle, e coração aberto. Trabalharei arduamente para ficar em paz com o “mostro” da ganância, da inveja, do ciúme, da miséria, da manipulação, da compulsão pelo gasto desnecessário, que habita minha mente inconsciente. Sei que ele está aí, mas não darei mais ouvido a ele. Mas caso eu caia na sedução irresistível deste “monstro”, tudo bem… Afinal, ele já está aí há tantos séculos. Começo tudo de novo. Coração aberto, mente organizada, gratidão a cada entrada, abertura para doar.
Coração aberto, mente organizada, gratidão a cada entrada, abertura para doar.
Faça o teste. Depois me conte…