Sedução, traição e amor verdadeiro nos projetos
HONRA (MEIYO)
É a qualidade essencial. Ninguém pode pretender ser Budoka (guerreiro no sentido nobre da expressão) se não tiver uma postura honorífica. É da honra que partem todas as outras qualidades. É um código moral e um ideal, de maneira a ter sempre um comportamento digno e respeitável.
Bushido – código de honra samurai
Às vezes, alguém vê um tipo de negócio, um projeto que está andando, e deseja algo: ou quer ganhar em cima deste projeto, financeiramente falando, ou quer tirar este projeto de um lugar e levar para outro, por algum outro tipo de ganho: poder, vingança contra um dos parceiros/sócios do projeto, influência, às vezes até inveja e vontade de passar a perna… Um dia fico com tudo sozinho! Ou ainda: vou copiar e depois fazer igual.
Seja este projeto uma empresa, um trabalho de faculdade, parceria em algum empreendimento, um grupo musical, a construção de uma casa, no momento em que se coloca qualquer tipo de ganho acima da vontade de ver o projeto florescer por si só e dar bons frutos a todos, em geral, a empreitada vai ter muitos problemas. Claro que ganhar dinheiro, status, poder, ter sucesso, é algo desejável (embora há que se ter um profundo cuidado com estes valores tão superficiais). Porém, qualquer movimento que se tenha deve inicialmente ser movido pela intenção do coração em beneficiar o próximo.
Muitas pessoas correm atrás de oportunidades. Oportunidade de quê? De ganhar dinheiro. Para quê? Para suprir a sua própria carência, de uma personalidade que se vê pobre, se compara para baixo e acha que o dinheiro irá lhe dar algum diferencial. Então, chegam com argumentos bem elaborados, dizendo que tal projeto é muito bom, será útil para a comunidade, tem um público-alvo específico, sedento daquele produto ou serviço. Porém, esses argumentos muitas vezes não resistem a uns 10 minutos de perguntas do tipo:
– o que te move, verdadeiramente, para realizar este projeto?
– o quanto você domina deste assunto que está querendo introduzir?
– você tem relação íntima com o público-alvo do seu projeto?
– como está sua vida financeira?
– o que você acredita sobre si mesmo, em relação a bancar suas ideias?
– o quanto você trabalha pela ideia de ser reconhecido pelas grandes coisas que faz?
– como foi o padrão dos últimos projetos que você fez?
– você feriu pessoas/sócios/amigos/colegas na tentativa de realização pessoal?
– o que você fez com estas pessoas que feriu? Houve alguma tentativa de harmonização?
– para que serve o dinheiro, verdadeiramente, na minha vida?
Como disse, é possível fazer vários minutos de perguntas provocativas, mas que deveriam ser feitas por todo empreendedor maduro, para perceber se ele não irá utilizar sua energia em algo onde apenas está querendo ganhar dinheiro, poder, reconhecimento, e nem sabe o significado básico de beneficiar o próximo. Mestre Masaharu Taniguchi diz: “Quem vive querendo só receber benefícios dos outros é como se estivesse assaltando-os. Por isso os outros sentem essa ‘atmosfera’ e passam a detestar essa pessoa.” Obviamente, uma pessoa que está nesta energia, não atrai pessoas interessadas em quantidade suficiente para prosperar.
Muitas vezes, a carência está escondida na mente inconsciente. A pessoa parte para fazer um projeto com a ideia de que está levando um benefício. Porém, se ela se perguntar e responder com sinceridade algumas questões como as que coloquei acima, começará a ver que existem falhas emocionais em sua estrutura psíquica, e isso é péssimo para o desenvolvimento sadio de um projeto. Trabalhando com constelação sistêmica, posso afirmar que a pessoa que não consegue separar dentro de si a própria carência do negócio que realiza, irá infectar este negócio e leva-lo para baixo.
Parceiros sedutores e traidores
Pessoas com esta característica de fraqueza emocional, muitas vezes partem para a sedução, a tentativa de ganhar em cima de outros, prejudicando pessoas envolvidas nos projetos que ela ambiciona. Como não acredita que o universo irá lhe dar algo para si, e também não acredita que ela própria tenha capacidade de tocar alguma coisa com a própria força e talento, quer seduzir algo que já está rolando.
Aí entra a questão da ética: eu posso fazer fusões. Sugerir parcerias. Buscar ingressar em projetos em andamento, para acrescentar. Mas se eu tento tirar alguém da jogada, para meu benefício, estou agindo como o sedutor que fica passando cantada na mulher do meu amigo. Algo dentro dele tem inveja da relação dos dois, e no fundo, quer destruir a relação – às vezes pode até haver uma atração entre os dois, porém, é necessário negociar como é que ficarão as partes prejudicadas. Caso não se negocie, a energia da raiva, da dor do abandono, da vingança ficará pendente no “ar”, e irá se manifestar no projeto.
Não é incomum o ambiente explodir dentro de uma equipe. Alguém trair o projeto. Parceiros abandonarem. O dinheiro minguar. O cliente não chegar ou não valorizar o produto/serviço. O projeto só dar muito trabalho e pouco retorno. Outro projeto passar o seu para trás. Acontecer acidentes, incêndios, roubos… Você não faz ideia do que a energia da raiva dos traídos e abandonados é capaz!
Sabe por quê comparei traições em projetos com a sedução afetiva? Porque, em geral, ao investigar as pessoas responsáveis pelo projeto, descubro que elas também tem um padrão de traições afetivas, ou são filhos de pais que passaram por mágoas de traições. As pessoas reproduzem o sistema familiar também nos negócios. Pode reparar. Começam a agir como amantes sedutores. Invejam. Tentam tirar de um lugar para levar para outro, não importando que existam pessoas que serão prejudicadas. Não possuem ética. Não sabem falar, negociar abertamente. Fazem as coisas por debaixo dos panos. Mentem descaradamente.
Nas minhas caminhadas pelo Brasil, onde estabeleço diversas parcerias em projetos, tomo muito cuidado de não me envolver em negócios quando percebo este padrão “rondando”. Não por moralismo. Simplesmente porque sei que irei desperdiçar energia e o projeto não irá crescer e beneficiar a quantidade de pessoas que poderia. Surgirão intrigas. Brigas. Ciúmes. Pessoas descontentes. O foco não está no benefício do público, mas no fundo, em suprir carências emocionais de aceitação, sustento, reconhecimento… e isso deveria ser resolvido em terapias, e não dentro de um projeto.
Serviço desinteressado
Para servir ao outro, é necessário ter algo para dar e estar com o canal de doação e recepção abertos. Só sabe dar aquele que sabe receber. Aquele que recebe, tem algo a dar. Para ganhar dinheiro e entrar no fluxo de prosperidade, é necessário estar livre do sentimento de carência. Também é necessário deixar o dinheiro ir para outras mãos que saberão usá-los com respeito, e estar aberto para que o dinheiro chegue, sabendo que você o utilizará com respeito, sem querer trancafiá-lo na masmorra. Para fazer algo benéfico, e não se apegar à necessidade de reconhecimento, é fundamental estar em paz com o pai e mãe, dentro de si. Porque, no final das contas, esperamos o reconhecimento dos nossos pais, em tudo o que fazemos, e movidos por esta carência, vivemos insatisfeitos e com o foco para o ego ferido, e não para o outro.
Devagar, descontaminando a psique de tantos e tantos traumas inconscientes que carregamos, e aprendendo a separar internamente o que é carência do que é serviço ao próximo, vamos nos aproximando da arte de trabalhar com o coração. Quanto mais em paz, projetos naturalmente fluem de você, e são projetos vivos, coerentes, cheios de força, porque nascem de um eu íntegro, que reconhece os próprios dons e talentos.
Em paz com o pai interior, temos foco, acertividade, capacidade de nos lançar ao mundo com confiança. Em paz com a mãe interior, sabemos aguardar o tempo necessário da gestação de um projeto, alimentamos os planos, cuidamos, protegemos, até o momento em que ele nasce, cresce, e em algum momento, se o universo permitir, possa andar com as próprias pernas.
Finalizando, quero deixar algumas palavras do meu mestre espiritual, Prem Baba, a respeito de trabalho e dharma (missão de vida): “Às vezes, você está trabalhando em algo que não lhe traz satisfação, mas que está de alguma forma fazendo a roda girar.
Devagarinho, você vai recebendo inspiração e guiança para começar a colocar os seus talentos e dons a serviço. Talvez, nesse mesmo lugar onde você já está trabalhando, ou em alguma outra coisa. Quando isto começar a se tornar mais claro para você, começarão a surgir oportunidades, e você vai sentir o impulso de se abrir para receber esse convite. Mas, sempre haverá um desafio, que é conseguir superar o medo. Toda a mudança gera medo (com raras exceções). A mudança que gera medo é aquela mais estrutural, mais profunda, quando você está há muito tempo apegado a uma forma, e o tempo lhe convida a mudar. Dependendo do tamanho do seu apego a essa forma, você vai sentir muito medo, mas é preciso encará-lo e superá-lo. E quando você se coloca a serviço, o universo vai dando o que você precisa.”