Uma longa jornada…
Hellinger diz que até os 90 anos ainda carregava algumas mágoas da mãe, da qual sentiu-se rejeitado. Quando conseguiu fugir do campo de prisioneiros, terminada a Segunda Guerra, e bateu na porta da sua casa, sua mãe abriu e olhou meio decepcionada: pensei que seu irmão é quem voltaria vivo. O mestre alemão também relata o quanto de dor carregou por ter sido tantas vezes punido pelo seu pai, homem severo e disciplinador, que utilizava um cano de borracha para corrigí-lo em seus inúmeros deslizes da infância. E diz que foi graças a uma terapia corporal realizada no México, onde chorou por duas horas seguidas, que conseguiu acessar as memórias da criança ferida e acuada, agredida desde os cinco anos de idade. E em outra terapia, nos Estados Unidos, finalmente entendeu que a severidade do pai o transformou num homem forte.
Por isso, sempre sorrio quando vejo pessoas acreditando que a constelação familiar irá mostrar um caminho fácil e rápido para esta reconciliação interna com os pais. E também sorrio com a incompreensão de outros tantos que olham para frases como a que coloquei acima como se fossem decretos: você tem que gostar do pai! Não, não temos que gostar dos pais. Não é isso que Hellinger disse. O Amor do filho pelos pais é algo natural e inato, que está encoberto por dores emocionais. Nós “já” gostamos dos nossos pais. Talvez, ainda não estamos enxergando totalmente. A busca não é, por isso, de amá-los, mas sim, de retirar as nuvens que encobrem este amor. E conforme vamos caminhando, chorando, xingando, gritando, sorrindo, se autoconhecendo, validando aprendizados, acertos e erros, começamos também a olhar para nós e para os outros com amor. É uma jornada longa e muito bonita. E que não tem fim…
Alex Possato